É véspera de Natal e dois inábeis polícias têm como missão dar uma notícia devastadora a um casal de idosos: a filha destes morrera num acidente. Mas o que à primeira vista poderia parecer uma tragédia familiar pautada por alívios cómicos, rapidamente se torna uma bola de neve de acontecimentos desastrosos. A peça, do dramaturgo inglês Anthony Neilson, foi apresentada pela primeira vez exatamente por altura do Natal, em 2002, no Royal Court Theatre, em Londres, dirigido pelo próprio Neilson. É, de facto, uma extraordinária comédia negra ao bom estilo inglês, que se aproxima do género da farsa, e que faz lembrar o humor mordaz de Tom Sharpe. Como em todas as boas farsas também aqui nos deparamos com um leque de personagens modelo, que numa sequência cada vez mais descontrolada de ações, precipitam um final inesperado. Um par de polícias desajeitados, um casal de idosos doentes, um padre e uma agressiva mulher membro de um grupo de vigilantes anti pedofilia, criam um caldo de situações em que o trágico é violentamente substituído pelo cómico numa inevitabilidade justificada pela inabilidade relacional das personagens. Sem dúvida um texto inesquecível não só pelo humor sem limites, mas também pela dúvida que implanta na nossa mente: vivemos nós também numa farsa?